quarta-feira, maio 31, 2006

Um dia..

Era um dia normal, um dia qualquer.. estava apenas farta de fixar os olhos nos mesmos rostos, nos mesmos móveis, nas mesmas divisões abastadas de bijouteria comprada nalguma feira de segunda.
Palmilhei a rua em direcção ao café que frequento por hábito e por gosto. O dia estava cinzento como o de hoje mas a chuva teimava em não cair. O frio gela-me o rosto, as mãos, e foi com alívio que alcancei a porta do café..
No seu interior a atmosfera era de aconchego. Era como se o dia estvivesse lindo e o sol brilhasse com toda a sua intensidade e vigor. Por isso mesmo voltei lá fora, porém nada havia mudado.
Apenas uma chuva miudinha dava um ar da sua graça, molhando aqui e ali pequenos pedaços da calçada desgastada pelos passos apressados daqueles que passam sem notar...
Tronei a transpor a soleira da porta e desta vez resolvi sentar-me numa mesa que, entretanto, havia ficado vazia. Sentei-me. Pedi um café e um maço de cigarros. Enquanto o empregado tardava, olhei em volta e observei aqueles queali se haviam refugiado, tal como eu, num dia triste como aquele.
A meu lado, dois namorados discutiam freneticamente acerca de coisas triviais da vida: compras, gostos, cores, sei lá! Observava-os um velho, não sei bem se reprovando ou admirado com a situação. Acompanhava-o um copo pequeno de vinho, quase vazio, e o jornal manchado do dia anterior... Iniciou a sua leitura e não mais olhou os jovens que continuaram afincadamente a sua discussão.
Pensei, são coisas da vida! Em apenas alguns curtos minutos havia-me deparado com dois estilos de vida plenamente opostos. Enquanto os jovens namorados vociferavam entre si palavras sem nexo, o velho deliciava-se com a leitura do seu jornal, alheando-se de toda a atmosfera que a envolvia: as notícias passadas mas recentes fizeram-no esquecer de onde estava e que o levaram em direcção a um mundo que, durante aqueles curtos momentos, seria só seu...
Ri-me em surdina e procurei algo que fazer. Este meu pensamento foi subitamente interrompido pelo empregado que, finalmente, me trouxe o café e o maço de cigarros que já tivera tempo de fumar.
Resolvi sair de lá. Tinha um saco para arrumar as velhas recordações de uma semana e um comboio para apanhar. Atrás de mim deixei alguns trocos, uma chávena vazia e um cigarro fumegante mal apagado..

Eu vs Eu

As piores batalhas que temos de enfrentar na vida nunca serão contra os outros.. Pelo contrário, o inimigo esta mais perto do que pensamos.. O pior inimigo com que nos poderemos um dia deparar somos nós próprios.. Existem vontades, loucuras que por vezes estravazam de nós.. transformam-nos..

terça-feira, maio 23, 2006

Amanhã à mesma hora..

Estiveste aqui. Sei-o porque te vi... as visitas tornavam-se tão momentâneas, tão passageiras.. Quase não tenho tempo para assimilar a tua presença, quanto mais para te sentir.
Mas aquilo que mais me custa transpor e enfrentar é a incerteza de quando será o próximo vislumbre..
Os dias atropelam-se e ainda bem que o fazem, porque só a loucura do dia-a-dia me mantém, nem que por breves momentos, algo abstraída do "ser" maravilhoso que formamos quando estvamos juntos e que torna este pedaço de universo tão único..
Antes, os dias passados juntos pareciam algumas horas, agora assemelham-se a apenas uma mão cheia de segundos que teimam em deslizar por entre os dedos. Mas realmente o que mais me custa enfrentar é o facto de, quando troco breves palavras contigo todas as noites, sentir a tua solidão, o teu isolamento nessa terra de ninguém..
Eu, ao menos, ainda tenho a quem dizer: "Amanhã, no mesmo sítio, à mesma hora..."

Benção I..

Sabem o que realmente desejava? Que inventassem uma máquina do tempo que me levasse de volta a 2003! Assim poder-te-ia juntar fisicamente ao meu dia.
Mas, embora ausente, estiveste sempre lá: estiveste nas árvores que abanavam com a doce melodia da brisa... Estiveste nos pássaros, no sol que embatia nas copas, no azul do céu que reflectia os teus olhos de água.
Até estiveste numa das fitas da minha pasta, embora não tenhas escrito nela... o amor que nos uniu durante 22 anos venceu a maior das provas: a morte! Estarás sempre aqui e espero que tenhas tido tanto orgulho em mim naquele dia como terei toda a vida por teres sido meu avô..
Sei que nos próximos momentos felizes, se chorar de alegria, chorarás a meu lado...
nunca deixarei de sentir essa mão quente nas minhas costas... e bem haja por teres sido uma das pessoas que me ajudou a chegar tão longe, apesar de não teres tido a oportunidade de comemorar comigo...

A ti, meu eterno anjo..

Benção..

A benção das pastas foi apenas à alguns dias. Tive a felicidade de os partilhar com a maioria daqueles que compõem o meu "mundo". Agradeço cada minuto, mesmo em silêncio, a presença dos que estavam lá, apesar de não terem tido qualquer hipótese de ver a cerimónia, ver-me a mim..
Estiveram lá, romperam as barreiras do pouco tempo que a amizade nos une, sujeitaram-se ao sol, ao piso irregular...
Bem haja, Lucia e Nuno, fizeram-me sentir verdadeiramente especial.. (continua)